O ateísmo conduziu o homem moderno a uma desorientação tão extrema que resgatar as noções mais básicas de sua condição humana é obra que já se não completa em umas poucas gerações. O estado é calamitoso a ponto de que nem a literatura pode prestar-se a uma retratação realista e integral da sociedade hodierna, sob pena de ser desabridamente rejeitada pelas gerações futuras por ter extrapolado o absurdo mesmo se consideradas as possibilidades ficcionais. Esta é uma situação talvez inédita, em que é preciso ignorar o grosso da realidade para se fazer literatura duradoura. Há coisas que não se dizem numa mesa, e há coisas que não se escrevem.
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Chega um momento em que cansa…
Chega um momento em que cansa a crítica social e cansa uma literatura inteiramente voltada a tipos inferiores. Chega um momento em que aflige, tortura a ausência da representação de um modelo contrário, um modelo superior que instrua e inspire pelo exemplo, ainda que se possa taxá-lo de utópico ou incompleto. A verdade é que, neste sentido, toda literatura pode ser taxada de utópica e incompleta, isto é, de criação imaginária sob uma ótica individual que necessariamente não pode senão abranger uma parcela da realidade. E não se poderão esquivar, nem a literatura, nem o autor, de que tal parcela seja considerada, para ambos, a mais importante.
A grande literatura guarda um elo fundamental…
A grande literatura guarda um elo fundamental com a realidade sem o qual perde completamente sua função educativa. É a investigação da realidade, ainda que sob a forma de realidade possível, o que faz com que a literatura amplie o horizonte do leitor, tornando-lhe a compreensão maior do que aquela de alguém que não lê. Disso facilmente se nota não somente a importância, mas a necessidade de que o autor trabalhe na obra o que tem de mais estritamente pessoal. Assim fazendo, permite que aquilo que pôde experimentar e compreender individualmente se torne, pela leitura, também patrimônio de seu interlocutor.
O papel essencial da literatura
O papel essencial da literatura é desvendar, examinar e criticar possibilidades humanas, as quais podem passar despercebidas por aquele que não se atenta ou não as imagina. É um trabalho, em suma, de ampliar e aprofundar a compreensão. A literatura é grande porque jamais se esgota, porque encerra em si mesma o potencial de tudo aquilo ainda não imaginado, abrigando as ideias mais estritamente pessoais. Estas, postas no papel, renovam-na e a engrandecem, numa expansão infinita que jamais deixa de guardar espaço para um novo autor.