O superlativo sintético latino…

O superlativo sintético latino dá à expressão uma força que nunca se consegue traduzir para uma língua que o não possui. E curioso notar que, diferentemente do português, o italiano utiliza-o com grande frequência sem que os períodos pareçam exagerados, afetados ou ridículos, em emprego mais semelhante ao latino. Contudo, embora o português demande cautela em seu uso, sem dúvida não seria o mesmo desprovido da força e concisão conferidas por esta relíquia herdada do latim.

A verdade não dita pela crítica literária

A verdade não dita pela crítica literária é que, afinal, pouco importa a construção de personagens, o arco dramático, a descrição de ambientes e demais bobagens quando o que se cria é produto isolado do engenho mental. Basta de mentiras! O que importa na literatura é a transubstanciação para as letras de experiências vivas e pessoais, que se gravaram no íntimo do autor e que, por humanas, merecem interesse universal.

A radical decisão de Cioran

Vem à mente a radical decisão de Cioran que, banindo o idioma materno da mão e da língua, prometeu-se jamais ganhar a vida senão pela pena, isto é, jamais trair a vocação reconhecida para ganhar mais dinheiro noutra ocupação qualquer. O resultado foi uma óbvia e permanente ausência de conforto, para dizer o mínimo de um escritor que isolou-se num cubículo alugado, sustentando-se através de uma como esmola e alimentando-se num refeitório popular, quando o intelecto o permitiria possibilidades infinitamente superiores. Tudo isso parece sugerir que faz bem sempre nos perguntarmos mentalmente antes de abrir um livro: de quanto este senhor abriu não para escrever?

O escritor cuja vida é involuntariamente invadida…

A despeito da recomendação geral, o escritor cuja vida é involuntariamente invadida e transtornada pela política não tem o direito, mas o dever de inserir política em sua obra literária. Isso é, em suma, uma obrigação para com as gerações futuras, às quais tem de transmitir o sabor de sua experiência pessoal. Não fazê-lo é negar-se. Um preso político, pois, ainda que contrariado, perdeu o direito de calar-se a respeito da opressão sofrida, e é justamente a ele destinada a missão de dar travo político às linhas, pois é justamente ele que tem como amparo a circunstância que todos os outros não têm.