“Cosa odiosissima è il parlar molto di se”

É verdade que, como bem notado por Leopardi, “cosa odiosissima è il parlar molto di se”. Contudo, não se pode negar que a poesia lírica, em primeira pessoa, para além das ótimas possibilidades rímicas proporcionadas pelos verbos, alcança um grau de aproximação entre eu lírico e leitor que dificilmente se consegue de outra maneira. Havendo ou não identificação entre ambos, há algo neste tom meio confessional que retira, ao menos aparentemente, parte da artificialidade da expressão, tornando-a mais autêntica, e portanto mais potente. Como Leopardi, faz bem evitar essa desagradável primeira pessoa; como Leopardi, afinal se há de assumi-la em nome da expressão.

O culto à forma só se pode dar…

O culto à forma só se pode dar em espíritos cuja motivação artística não é suficientemente forte, ou não é suficientemente clara. No primeiro caso, não se tem propriamente um artista e, no segundo, tem-se um artista que ainda não se compreendeu. O mais das vezes, porém, quer conscientemente, quer não, o culto à forma é mera máscara que se coloca para tampar um vazio interior.

Já foi notado que grandes autores…

Já foi notado que grandes autores frequentemente emergem como reações a grandes crises sociais, e que mais estimulante é o ambiente agressivo que aquele pacato, controlado, inofensivo, que não ameaça diretamente o autor e que, portanto, não promove senão inércia. Tudo isso está correto; mas falta notar que, para que a reação aconteça, é preciso haver uma educação que possibilite o notar-se a dimensão da crise, isto é, é preciso que o autor tenha claríssimos em mente os fundamentos precípuos de uma civilização, algo que lhe exige, sobretudo, distanciar-se daquela em que vive para que possa usá-la como elemento de comparação.

O que encanta na poesia provençal e nas formas fixas medievais francesas…

O que encanta na poesia provençal e nas formas fixas medievais francesas é sobretudo a sonoridade melodiosa, que só ocorre por haver em ambas um vínculo inalienável com a música, isto é, só ocorre por serem sempre as composições, se não destinadas ao canto, destinadas a serem recitadas com acompanhamento musical. Assim que ritmo e melodia, obrigatoriamente, nelas têm de se harmonizar como exigência construtiva, surtindo um efeito, ou melhor, dotando a composição da deliciosa qualidade de que a poesia moderna esforçou-se por se despojar.