Já foi notado que grandes autores frequentemente emergem como reações a grandes crises sociais, e que mais estimulante é o ambiente agressivo que aquele pacato, controlado, inofensivo, que não ameaça diretamente o autor e que, portanto, não promove senão inércia. Tudo isso está correto; mas falta notar que, para que a reação aconteça, é preciso haver uma educação que possibilite o notar-se a dimensão da crise, isto é, é preciso que o autor tenha claríssimos em mente os fundamentos precípuos de uma civilização, algo que lhe exige, sobretudo, distanciar-se daquela em que vive para que possa usá-la como elemento de comparação.
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O que encanta na poesia provençal e nas formas fixas medievais francesas…
O que encanta na poesia provençal e nas formas fixas medievais francesas é sobretudo a sonoridade melodiosa, que só ocorre por haver em ambas um vínculo inalienável com a música, isto é, só ocorre por serem sempre as composições, se não destinadas ao canto, destinadas a serem recitadas com acompanhamento musical. Assim que ritmo e melodia, obrigatoriamente, nelas tem de se harmonizar como exigência construtiva, surtindo um efeito, ou melhor, dotando a composição da deliciosa qualidade que a poesia moderna esforçou-se por se despojar.
Embora, sem dúvida, não seja algo profissional…
Embora, sem dúvida, não seja algo profissional ou prudente o sentar-se à mesa e permitir-se admirar a maravilha medonha da tela branca com o cursor piscando como um cronômetro macabro, o fazê-lo por vezes mostra-se curioso, quando o resultado é o cérebro buscar a ideia de um obscuro recanto da mente, e em seguida desenvolvê-la com minúcia, sem que se tenha preparado para tal. Kardec assevera trata-se de um naturalíssimo processo metafísico que, conquanto inteligível, uma vez aceito coloca em xeque os limites, a identidade e as capacidades individuais do ser. Então a pergunta, que talvez encerre uma valiosa lição: em que medida importam?
O grande momento da leitura ficcional
O grande momento da leitura ficcional é aquele em que percebemos, na individualidade do autor e da obra, a conexão com o universal. É grande por amplificar o sentido do detalhe e demonstrar que o drama humano é um drama compartilhado. Notando-o, tomamos consciência de que nem o tempo nem o espaço alteram essa condição essencial do ser, responsável pela possibilidade de compreensão entre os homens; notando-o, tomamos consciência de que o mínimo, por menor que seja, encerra em si mesmo uma perene e intercambiável significação.