Se um tema se torna recorrente…

Se um tema se torna recorrente, como que reaparecendo em mente pedindo nova abordagem, é sinal de que merece maior atenção. O comum seria abandoná-lo, colocando o abandono na conta de uma suposta falta de criatividade, quando só raramente se vale de algo novo para criar. Ocorre que, muitas vezes, o retorno é evidência de importância pessoal, evidência que deveria ser obrigatória em tudo aquilo que o artista se propõe a abordar. Portanto, é considerá-lo com cuidado, porque a grande obra é geralmente rebento de uma grande obsessão.

A literatura estaria morta caso se exigisse…

A literatura estaria morta caso se exigisse de seus artistas rigor semelhante ao que se exige de escritores de outras áreas. A coerência, ou melhor, o cogitar uma coerência hipotética é paralisante, é algo que ceifa possibilidades. O artista deve ter liberdade de avançar a despeito de possíveis consequências, focando-se apenas em conferir vida à criação. Pouco importam suas obras precedentes, ou o que porventura pensaria daquilo que agora escreve: a obra tem de ser independente, e condensar em si mesma os motivos de sua concepção.

Cresce-se muito mais quando se alimenta…

Cresce-se muito mais quando se alimenta o respeito, o apreço, o carinho pelas obras legadas pelos autores do passado, em face do impulso oposto de desmerecê-los ou rejeitá-los. Mas talvez seja preciso aguardar que o tempo amplifique o primeiro sentimento, à medida que a mais vasta experiência proporcione mais numerosos pontos de contato, aumentando assim a compreensão e a empatia. A boa idade é aquela que ensina complacência, e a complacência, mais do que a ninguém, beneficia aquele que a possui.

O erro talvez mais frequente…

O erro talvez mais frequente que se vê na crítica literária é tomar a importância histórica como critério qualitativo de um autor. Nada mais falso. O sujeito que publica um soneto, se toma um tiro, já é o poeta assassinado. E disso se poderiam seguir páginas e páginas que passariam uma enganosa impressão de grandeza. Enquanto isso, lá está o outro, obscuro, sem contatos, do qual pouco se sabe, cuja biografia talvez não tenha brilho, e nem a obra novidades, inexplorado pela crítica, sem influência, mas que fez realidade, com todo o espírito e plena sinceridade, o melhor de sua vocação.