A mitologia grega é mesmo fascinante. E mais a estudamos, mais ficamos impressionados com o painel vastíssimo de condições humanas que ela encerra. Ficamos, aliás, com a sensação de que não há sentimento, não há destino humano que não encontre ali um modelo. E as demais criaturas singularíssimas, as cidades e cenários fantásticos, é tudo demasiado vivo e estimulante para a imaginação. Contudo, há de se notar que, a despeito de todo o esplendor da mitologia grega, parece o seu universo carecer de uma divindade que não se resuma a uma espécie de homem com poderes sobre-humanos. Se é isso o que buscamos, temos de procurá-lo em outro lugar.
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A delícia na escolha das rimas
Em meio a agruras intermináveis, não há negar que o fazer poético guarda certa delícia na escolha das rimas, na escolha e na posterior constatação de seu efeito. Não importa o quanto se mecanize o processo, a descoberta de uma rima inesperada é sempre prazerosa e estimula sobremaneira, chegando a tornar-se um como vício que não faz senão mais e mais atrelar o poeta à linguagem. Afinal, é um vício que acaba produtivo e, uma vez experimentado, impressiona a indiferença com a qual alguns poetas o repeliram.
Se, por um lado, é muito útil ao artista…
Se, por um lado, é muito útil ao artista não se afobar e guardar algumas de suas inspirações para que possa melhor trabalhá-las, por outro tem de desenvolver um senso muito apurado para reconhecer os seus estados de espírito e ideias excepcionais, tem de saber, em suma, quando é imprescindível aproveitar o momento. Há ideias que, lamentavelmente, passam, e estados de espírito que só se experimenta uma vez. A idade sobretudo o demonstra. O escritor experiente, por mais experiente que seja, não pode retornar ao passado para escrever. Nada há de mal nisso, exceto se, por demasiada cautela, perceba nele uma oportunidade que se perdeu.
Vou a São Paulo e, como sempre…
Vou a São Paulo e, como sempre, fico a reparar o trânsito paulistano. É mesmo uma obsessão. Tomo um táxi, e despejo no taxista as minhas teorias. Ensino ao profissional do trânsito como se troca de faixa em São Paulo, o significado da faixa da esquerda, e lhe vou apontando o sentido implícito de cada movimento realizado por outros motoristas. Provo-o que o paulista sabe dirigir e tem educação. O sujeito logo perde a timidez e gargalha diante das histórias que lhe vou contando de outras paragens, até que enfim é convencido de ser feliz no trânsito mais lento do Brasil. Desço e já penso no próximo táxi, onde contarei novamente as mesmas histórias; por vezes, chego a dividir o percurso em duas corridas para poder contá-las duas vezes. E acabo, assim, divertindo-me também. Enfim, nada tendo que ver com as provocações de meus personagens, saio sempre de São Paulo com a sensação de que o paulista é, mesmo, um sujeito boa-praça.