É característico de diversos autores…

É característico de diversos autores o expressar-se comedidamente, mais sugerindo que propriamente expressando o que querem. Nalguns casos, decerto a sugestão funciona, e talvez diga mais do que a expressão direta poderia dizer. Mas esta técnica, se empregada sempre, redunda num vício que prejudica ainda mais o autor do que a obra. É um vício que, sempre que o verbo nasce inflamado na mente, rejeita sua expressão inflamada no papel. E então é como se, ao autor, fossem proibidos determinados modos de dizer. Não se trata apenas de uma limitação óbvia, mas da privação de experiências artísticas importantíssimas: uma única vez que o escritor rompa todas as amarras e force o espírito a expressar com intensidade máxima aquilo que pretende, perceberá que ali, no ato de criação, algo diferente aconteceu; mas, sobretudo, perceberá que, concentrando-se inteira e sinceramente nisto, algo diferente sempre acontece.

O crítico sempre terá o julgamento da obra…

Independentemente da linha adotada, o crítico sempre terá o julgamento da obra literária condicionado à força com que ela penetrou-lhe e se lhe gravou no espírito. Portanto, os elementos que identifica, como a coesão do enredo, a veracidade dos personagens, a beleza da expressão, a relevância dos temas abordados, tudo isso, é como se se provassem tanto efetivos quanto conseguem tornar a obra memorável, e consequentemente mudar, ou enriquecer a compreensão que o próprio crítico tem da realidade. A valorização da novidade, pois, é justificada porquanto a novidade acende uma luz inédita no espírito. Enquanto o crítico permaneça a julgar adotando esta linha, fará uma crítica que pode ser subjetiva, porventura injusta, mas sempre autêntica. Em contrapartida, adotar a via contrária será sempre um desperdício e um desvio de sua função.

Quando se vence o medo da morte…

Quando se vence o medo da morte e se passa a olhá-la com benevolência, as linhas que se escreve saem carregadas de um novo valor. Se a ignoramos, podemos ser iludidos e adotar um objetivo falso para escrever; podemos nos esquecer do verdadeiro valor das letras. Mas se a encaramos, se a aceitamos e se passamos até a estimá-la, o ato da escrita toma algo de transcendente, e encara-se o trabalho como aquilo que de mais nobre se pode fazer.

É difícil imaginar o ambiente literário…

Do Brasil, é difícil imaginar o ambiente literário europeu do século XIX, no qual não somente se ganhava algum dinheiro com literatura, mas era possível viver de ficção. Só de imaginar um pagamento, qualquer pagamento, precificado pelo número de páginas escritas, é algo que faz o cérebro travar. Menos absurdo que conjeturar um editor que pague alguma coisa por literatura, é pensar no ato da criação invadido por pensamentos como: “Cobrarei tanto por página”, “Oferecerei a obra a este e àquele editor”, “Preciso finalizar o livro para receber”… E isso como regra! experimentado por praticamente todos os autores! Então, o pensamento voa para os aspectos econômicos: esta obra foi vendida por tanto, aquela por outro tanto, este autor vendia tantas obras por ano, aquele outras tantas, e assim por diante. E pensar nos autores que fizeram a literatura brasileira, financiando o próprio trabalho, publicando por um misto de dever e amor, e sem jamais contar com a possibilidade de ganhar uma vida com a literatura. O contraste é brutal!