Não há como não se deixar tocar pela nobreza, pela beleza de uma educação conduzida por um homem probo e talentoso, posto que resultados maravilhosos se lhe podem derivar. Tal é, contudo, de tamanha raridade, que aqueles que se deparam com um exemplo real não podem senão perder-se em idealizações sobre como tudo seria melhor caso todos tivessem oportunidades idênticas à de alguns seletos iluminados. E então confrontá-lo com o mundo real… mas que fiquem para outro dia os lamentos: merecem o mais alto reconhecimento aqueles que honram essa nobre vocação.
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Cinco séculos de genealogia
E vemos, com um misto de gosto e surpresa, Nabokov a descrever detalhadamente cinco séculos de sua genealogia. Cinco séculos! E, de outro lado, aqueles que não sabem sequer o nome de nenhum dos bisavós. É bonito pensar que haja, em ambos os casos, um motivo para tal; e se temos num deles um grande escritor extraindo sentido de sua família, preenchendo-se de um senso de pertencimento saudável e estimulante, noutro dá-se a justificativa prática para uma filosofia particular…
Os versos burlescos de Bocage
Há algo realmente engraçado nos versos burlescos de Bocage que, se lidos em pequenas quantidades, provocam um riso sincero. Porém, a graça resume-se nisto. São versos que não podem ser lidos aos montes sem que causem tédio. Assim é a obscenidade: causa efeito somente enquanto espante; desaparecendo o espanto, não pode senão gerar fastio e aversão.
Tem de haver, obrigatoriamente, uma diferença…
Tem de haver, obrigatoriamente, uma diferença entre versos longamente meditados e versos talhados em segundos. Se não o leitor, é o poeta quem deve senti-la. Caso contrário, é admitir que nem a mente, nem o esforço servem de nada. E a paciência uma virtude daqueles que não têm talento. Não, não… parece haver aí um contrassenso, assim como há justeza na maior gratificação proveniente da conclusão de trabalhos demorados. A grande arte pede tempo, ainda que para ratificar uma criação concebida num repente.