É mesmo um milagre isto que frequentemente…

É mesmo um milagre isto que frequentemente se observa na construção de poemas, quando às vezes se troca uma única palavra, se apara esta ou aquela aresta, e um todo sem graça, repetitivo, banal, muda como que completamente de caráter, e a expressão, antes frustrada, parece enfim satisfazer a intenção inicial. A lição desta experiência é que o poeta deve prosseguir nos momentos em que a criação desagrada, deve esforçar-se por dotar o poema ao menos de uma estrutura coesa, estrutura fundamental para que os brilhantes e às vezes inesperados detalhes possam sobressair.

A boa literatura tem sempre um caráter instrutivo

A boa literatura tem sempre um caráter instrutivo, ainda que velado, o qual possibilita que o leitor cresça através da leitura. Por isso faz bem ao escritor questionar o quanto ganharia um leitor hipotético ao ler o que pretende escrever: a depender da resposta, talvez o melhor seria buscar outras ideias, mais convincentes, mais realistas, menos egoístas e mais individuais. Porque é bem isto o que fica evidente quando se pratica tal exercício: as melhores ideias, aquelas que com mais facilidade agregarão algo à experiência do leitor, são aquelas mais particulares, aquelas mais intensamente vividas e mais profundamente assimiladas. Em resumo: ensina-se bem somente aquilo que se conhece bem.

A literatura é uma ocupação dificílima

A literatura é uma ocupação dificílima porque, em geral, seus resultados não se fazem palpáveis. Daí que pareça, diante de uma “ocupação prática”, inteiramente inútil. E ainda que assim não seja, é assim que parece ao escritor que diariamente trabalha, isto é, a rotina de criação invisível faz brotar uma sensação de inutilidade difícil de dominar, sensação muito agravada pela realidade palpável de que a obra recém-criada ninguém afeta, ninguém estimula, e frequentemente não é sequer notada por ninguém. Mas aqui está o brilhante paradoxo: quanto mais inútil pareça a literatura, tanto mais é autêntica. E o grande escritor completa-se vencendo as aparências e deixando como legado o seu exemplo de superação.

Observa-se por vezes naquele experimentado…

Observa-se por vezes naquele experimentado em literatura a capacidade incomum de distanciar-se de si mesmo para analisar-se, isto é, de ver-se como em terceira pessoa, imaginando-se personagem de um romance, não idealizando a própria vida, mas enxergando-se como alguém que decide e colhe os frutos das próprias decisões. Queira, também, idealizar a própria vida, e então será capaz de medir o quanto aproxima-se ou distancia-se daquele que tenciona ser. Em ambos os casos, consegue sobretudo conhecer-se num nível que, sem o conhecimento aprofundado da dinâmica das biografias, é muito difícil de alcançar.