No ocidente, a gradativa facilitação…

No ocidente, a gradativa facilitação do acesso aos livros não foi acompanhada de um gradativo aumento na compreensão da realidade. Muito pelo contrário: nas últimas décadas, em que o acesso tornou-se de uma facilidade monstruosa, parece ter havido também um aumento monstruoso na confusão mental em que o ocidente se encontra. A ironia disso tudo é o retornar de problemas muito velhos, e que pareciam há muito pacificados — problemas que, teoricamente, um pouco de estudo poderia resolver. Por algum motivo, parece que a inacessibilidade despertava uma curiosidade que, por sua vez, era um incentivo à leitura e ao desejo de compreensão. Não há como negar: o homem inclina-se a julgar o mais acessível como menos interessante — desgraçadamente.

Um grande erro destes artistas…

Um grande erro destes artistas que pretendem conceber obras de “importância nacional” é que, centrando-se numa temática supostamente abrangente, esquecem que, para que ela seja efetivamente abrangente, o melhor teste é assegurar-lhe a relevância a nível pessoal. Falhando em percebê-lo, caem num artificialismo que é o resultado natural quando não se percebe a real importância das coisas. A obra, portanto, concebida para ser abrangente, acaba por sair descolada da realidade — ou, mais simplesmente, irrelevante.

É incrível notar como a poesia…

É incrível notar como a poesia, da metade do último século em diante, tornou-se praticamente ilegível. Ilegível e ruim, salvo exceções que parecem pertencer a outro tempo. Não adianta, nem com a máxima boa vontade supera-se o problema: a poesia contemporânea, quando muito, aparenta interessante, ilude quando dotada de uma obscuridade que parece guardar algum tesouro. Enfim, o esforço para compreendê-la nunca compensa. É lamentável.

Ainda que beirem o irreal e o inconcebível…

Ainda que beirem o irreal e o inconcebível, sem dúvida os textos místicos são leitura mais agradável que a mesquinhíssima literatura do banal. Porque aquela, como as lendas e como a literatura fantástica, possui um teor sugestivo muito mais estimulante do que este realismo corriqueiro, que faz com que a leitura aparente uma tremenda perda de tempo. Se é para imergir nas letras, que seja para que a mente se expanda, e não para que se aprisione naquilo que não carece nem de letras, nem de imaginação.