Desejo: câncer da psique humana

É possível encontrar justificativas racionais para negar as soluções propostas pelos estoicos, pelos budistas, por Schopenhauer e tantos outros. Mas há uma verdade universal, presente também na filosofia cristã, referente ao desejo: é ele a praga, o câncer da psique humana, a fonte interminável de frustrações. E se, após cuidadosa análise psicológica, decidimos arrancá-lo pela raiz, desarraigando cada uma de nossas esperanças a enxadadas, livramo-nos de uma carga imensa, maligna e prejudicial. O problema é que o ser humano vive de sonhos, suporta a realidade na esperança de um futuro melhor. Exterminá-la, pois, é fazer com que a vida perca o brilho, é dar linha à indiferença, é negar a própria natureza, é automutilação. Pois bem: parece ser esse o caminho da paz.

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Forçar o cérebro

Exercício extremamente útil: forçar o cérebro, chicoteá-lo. Digo e imagino-me diante dos originais latinos. De início, a sensação de esforço inútil; então a persistência, a obsessão: e as palavras, forçadas, preenchem-se de sentido. A técnica não é nova, muito menos original; útil desde os idiomas estranhos aos textos de essência abstrusa. O cérebro parece recompensar a insistência, trabalhar à base de pancadas, coação. E se, em seu fluxo vertiginoso de ideias, muitas vezes pode atrapalhar-nos, quando amarrado, compelido, trabalha com gosto a nosso favor.

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Inspiração: estimulação consciente do cérebro

Li não lembro onde, há alguns bons anos, um psicólogo a dizer que Bertrand Russell utilizava um processo interessante quando se envolvia em problemas complexos. Seria mais ou menos o seguinte: Russell pensava, com máxima concentração e força de espírito, no determinado problema; traçava-lhe as possíveis soluções, desmembrava-lhe em questões menores, formulava variadas hipóteses e buscava encontrar, em todas, as possíveis falhas. Ocupava-se-lhe inteiramente a cabeça com a questão por horas, às vezes dias, e então, quando se sentia esgotado, não publicava, sequer executava a redação final de suas conclusões: abandonava o problema e deixava-o descansar, ocupando-lhe a mente com qualquer outra coisa. Então, passados alguns dias, semanas ou meses, subitamente a mente apontava-lhe a solução, que vinha como uma violenta avalanche e, assim, Russell sentava-se a escrever. Que seria isso, inspiração? Se for essa a palavra, então será forçoso adicionar que nela não há nada de divino, fantástico ou sobre-humano. O que há é método, estimulação consciente do cérebro. E se o cérebro, pois, às vezes não entrega resposta imediata, não quer dizer que não funcione, ou que não esteja a trabalhar. Da mesma forma que, quando decide ferver em momento inoportuno, não está a fazer nenhum tipo de mágica ou exibir poderes sobrenaturais…

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Mistérios da psique humana

Por que sempre ao deitar-se a mente ferve? Por que justo na necessidade de descanso a mente cisma em pensar sobre as últimas verdades, a planejar tudo, a querer passar a régua sobre a vida? Por que a ruminação mais profunda sempre se dá na ausência do sol? Por que a consciência sempre, como um morcego, escolhe a noite para despertar? Mistérios… Mistérios que credenciam a insônia como propulsora da vida intelectual — e, é claro, do péssimo humor pelas manhãs…

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