Independência e resolução

As reações do público a uma peça dramática ensinam sobre a arte. Ao público, geralmente agredido ao final do último ato e imediatamente após a agressão, é concedido o direito de resposta. Então ecoam as vaias, os impropérios e similares. Dizemos, é claro, do público espontâneo — sincero, selvagem — e em primeiro contato com a peça. Uma peça já representada, ou antes, um público conhecedor do clímax do drama age de forma totalmente diferente: comparece ao teatro para analisar performances e decidido a aplaudir. O curioso é que, em vida, os grandes dramaturgos não costumam produzir sob o estímulo dos aplausos; e o público, que geralmente é maestro da crítica, contribui para a sua execração. Assim vemos a arte como que forçando a autonomia do artista ao atirá-lo em confronto contra a maioria. Parece perguntá-lo: “E então? és capaz de seguir adiante, contrário a todos?”. A questão não cede espaço a evasivas: a arte parece exigir independência e resolução.

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As luzes faíscam do seio das trevas

Trecho de Camilo Castelo Branco, em Lagrimas Abençoadas:

Como é que da seiva do erro se nutrem viçosas as vergonteas da verdade? As luzes faiscam do seio das trevas. Ha máximas preciosas que brilham ao clarão dos incendios philosophicos.

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A sina do intelectual

O intelectual tem de ser imprevisível, ou não será digno do epíteto. Se o leitor, em contato com o título de uma obra ou de uma crônica, for capaz de predizer-lhe o conteúdo, então o autor estará morto, mergulhará no desinteresse. Digo o óbvio, é confrontar com os exemplos… Cronistas de assunto único sobejam, romancistas de antolhos são maioria. E se atingem, estes ou aqueles, os efeitos desejados alguma vez, a insistência somente lhes expõe as limitações. O intelectual, pois, há de ser dinâmico, variado, imprevisível e abrangente, do contrário, é preferível que deixe de falar…

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A distância entre o público e o artista

Nada representa tão bem a distância entre o público e o artista como o teatro e não há grande peça dramática imune a vaias em primeira apresentação. Fato compreensível, posto o grande efeito dramático ser avesso ao agradável. O dramaturgo, pois, pode medir o próprio sucesso pelas reações negativas e, se recebe aplausos, talvez seja artista menor. Assim é a dramaturgia. As pedradas evidenciam-lhe a força e o natural é que flores não sejam atiradas senão por um público que lhe passou incólume. Será apenas a dramaturgia?…

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