A distância entre o público e o artista

Nada representa tão bem a distância entre o público e o artista como o teatro e não há grande peça dramática imune a vaias em primeira apresentação. Fato compreensível, posto o grande efeito dramático ser avesso ao agradável. O dramaturgo, pois, pode medir o próprio sucesso pelas reações negativas e, se recebe aplausos, talvez seja artista menor. Assim é a dramaturgia. As pedradas evidenciam-lhe a força e o natural é que flores não sejam atiradas senão por um público que lhe passou incólume. Será apenas a dramaturgia?…

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Estilo é abundância em recursos expressivos

O objetivo de todo grande artista deveria ser erigir, a longo prazo, um monumento complexo e multifacetado. Por isso artistas menores são os que, irritantemente, só fazem repetir os mesmos processos. Fazê-lo, a buscar ênfase numa mesma ideia, numa mesma impressão ou na evocação de um mesmo sentimento, não é, como alguns supõem, demonstração de estilo, mas evidência de horizonte criativo limitado. Estilo é expressividade, potência, concisão, ritmo… Estilo é abundância em recursos expressivos, exatamente o contrário da capacidade do artista em repetir à exaustão os mesmíssimos processos.

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O grande problema humano é o haver ou não propósito

O grande problema humano é o problema de sentido, o haver ou não propósito. E não são a vida e obra humanas senão a resposta. Essa simples questão ultrapassa todas as outras, atravessa a realidade nos mais íntimos detalhes. Já quando tudo parece bem, já quando a fortuna decide exibir-lhe o chicote, o problema resta evidente, sempre à espera de resposta: para quê? Pensando nisso temos, pois, a ferramenta necessária para medir-nos a dimensão, avaliar-nos a existência e decidir, sozinhos, o que devemos ou não fazer.

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Quem há que não se espante?

Vamos desta abertura magnífica de uma das epístolas de Camões:

Quem póde ser no mundo tão quieto,
Ou quem terá tão livre o pensamento,
Quem tão exprimentado, ou tão discreto,
Tão fóra, emfim, de humano entendimento,
Que ou com público effeito, ou com secreto
Lhe não revolva e espante o sentimento,
Deixando-lhe o juizo quasi incerto,
Ver e notar do mundo o desconcêrto?

Quem ha que veja aquelle que vivia
De latrocínios, mortes e adulterios,
Que ao juizo das gentes merecia
Perpétua pena, immensos vituperios,
Se a Fortuna em contrário o leva e guia,
Mostrando, emfim, que tudo são mysterios,
Em alteza d’estados triumphante,
Que por livre que seja não s’espante?

Quem ha que veja aquelle, que tão clara
Teve a vida, qu’em tudo por perfeito
O proprio Momo ás gentes o julgára,
Inda quando lhe visse aberto o peito,
Se a má Fortuna, ao bom somente avara,
O reprime, e lhe nega seu direito,
Que lhe não fique o peito congelado,
Por mais e mais que seja exprimentado?

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