As “obras-primas da ficção de gênero”

Perguntam-me o que acho das “obras-primas da ficção de gênero”. Estranho a pergunta. Jamais considerei obras-primas sobre semelhante perspectiva. Quero dizer: uma obra-prima o é — ou não — independente de seu gênero literário. Mas a questão abre as portas para uma reflexão interessante. O que se convencionou chamar de “ficção de gênero” parece não ter angariado respeito da crítica. Mas a crítica costuma ser injusta com tudo o que constitui novidade. A literatura, porém, está sempre em movimento — e pior para os críticos que o não acompanham. Por outro lado, a popularização das “ficções de gênero” deve muito ao fato de que essas obras, em geral, são escritas pensando no leitor. Escrever pensando no leitor é um método extremamente eficaz para produzir uma obra de baixa qualidade. E como o lixo sempre fez sucesso entre o público! Por isso, quanto à “ficção de gênero”, é necessário cautela. Em hipótese alguma um gênero literário impõe limites para a qualidade de uma obra artística, e várias obras de “ficção de gênero” vencerão a barreira do tempo e se tornarão clássicas — algumas, aliás, já o fizeram… Porém, os artistas desse gênero literário caminharão por muito tempo sobre uma linha estreita: amados pelo público, desprezados pela crítica, tendo de lidar com a tirania do sucesso que pode, de fato, destruir-lhes a qualidade artística das obras. É ter coragem para colocar a arte como rainha e ser indiferente aos anseios do público…

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O ódio consagra com maior frequência que o amor

É curioso notar que o ódio consagra com maior frequência que o amor. E curioso notar como a mesquinhez humana inicia e fecha o arco da obra artística: motiva a agressão e chicoteia o agressor. Penso se haverá arte entre anjos. Talvez. Mas sendo o homem como é, a arte terrena jamais poderá ser diferente do que sempre foi. E a inveja e o ódio serão eternamente, na terra, as medalhas concedidas ao progenitor da grande arte.

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A vida não parece suportável senão às naturezas leves

Trecho de Emil Cioran, em minha tradução:

Sem a faculdade de esquecer, nosso passado pesaria de um modo tão esmagador sobre nosso presente que não teríamos força para abordá-lo um só instante, muito menos nele embarcar. A vida não parece suportável senão às naturezas leves, precisamente àquelas que não se recordam.

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O desejo de concordância

Poucos instintos são tão perniciosos às relações sociais e, especialmente, à personalidade do artista como o desejo de concordância. Em primeiro lugar, por ser esta uma manifestação da vaidade. Em segundo, pelas naturais implicações: discussões inúteis, antipatias gratuitas e fortalecimento do apego às próprias ideias. Tudo isso é veneno para alguém que deseja cultivar relações amigáveis e, pior, dar origem a uma obra artística. Conviver com o dissidente não é somente obrigatório, como o mundo é melhor por duas pessoas não pensarem igual. E quanto ao artista: que é que ele tem a ver com a opinião dos outros ou com a própria opinião? Desejar a concordância o tornará um egocêntrico, de antolhos, inclinado a usar da arte para adornar as próprias convicções. Como artista, inevitavelmente falhará, posto o desejo de concordância ser mancha que, em contato com a arte, impregna e não sai.

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