Mulheres…

Banhemo-nos de Camilo Castelo Branco, desta vez refletindo a respeito das mulheres:

Não era muito que Tadeu de Albuquerque fosse enganado em coisas de amor e coração de mulher, cujas variantes são tantas e tão caprichosas, que eu não sei se alguma máxima pode ser-nos guia, a não ser esta: “Em cada mulher, quatro mulheres incompreensíveis, pensando alternadamente como se hão de desmentir umas às outras”. Isto é o mais seguro; mas não é infalível.

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O lobo da estepe, de Hermann Hesse

Fechei essa obra genial desgostoso do desfecho da trama. Pensei: “Como será que esse livro repercutirá em mim no futuro?”. Refleti sobre a leitura: desde o início, fiquei encantado com a agudeza e precisão das descrições psicológicas do misantropo, autodestrutivo e depressivo Harry Haller, que a mim parecia-me um irmão. A narrativa desenvolve-se instigante, vendo Harry brotar, através de uma mulher — Hermínia, — seu lado humano, em seguida enfrentando uma acirrada batalha psicológica em vista de sua personalidade ambivalente. A tensão psicológica é constante, e as reflexões de Harry são dignas de nota. Vem o cume do livro, onde Harry parece em delírio. Senti-me, pouco antes, diante da presença física de Goethe e Mozart, evocados pelo autor. Não me emociono nem um pouco com o que se poderia chamar de clímax do enredo — ou, se quiserem, com o que imediatamente sucede o clímax. — Algumas páginas adiante, fecho o livro: “E então? De que me lembrarei no futuro?”. Passaram-se dois meses:  já mal me lembro do desfecho; o restante do livro, contudo, resta vivo em mim.

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Diplomas e conhecimento

Acho graça do culto ao diploma. Minha mente voa… Fico imaginando daqui a quanto tempo exigirão diploma para atletas: “Rapaz, antes de bater o recorde mundial dos 100 metros rasos, vá atrás do teu diploma de velocista!”, ou para padeiros: “Não, não… isso que fizeste não é um pão. Para fazer um pão precisas, primeiro, de um diploma de padeiro”. Acho graça porque claramente o sistema de ensino brasileiro colapsou, enquanto há gente a que agrada humilhar os outros calcando-se em diplomas. Hoje, um diploma não vale muita coisa… Qualquer um forma-se, qualquer um compra um diploma. Sumariamente, a diferença de um engenheiro para um cobrador de ônibus, hoje, é o bigode. E tenho um diploma de engenharia escondido em algum lugar de minha casa; falo, pois, com a autoridade de um diplomado que um diploma não tem relação necessária com conhecimento, somente diz que o diplomado obteve média na somatória de provas e trabalhos e compareceu na frequência mínima exigida pela instituição. Conhecimento é outra coisa.

Natureza…

Não sou um entusiasta da natureza. (Pedras!) Sei que, para muitos — todos? — a palavra natureza inspira uma paisagem silenciosa, pura como uma fresca nascente a deitar no tranquilo ramalhar das árvores sob o brando movimento das águas. A mim, não. Quando penso em natureza, minha mente associa — e me não pede permissão! — primeiramente, à imagem de uma mata fechada; em seguida, à sensação de meus pulmões sendo insuflados de ar puro e, bruscamente, ouço um zunido insuportável de mosquitos, que se transforma no silvar agressivo de uma cascavel. Assustado, sinto um arrepio. Sim, sim: minha casa é a poluição e o cinza.

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