É certo que os últimos dois séculos acostumaram…

É certo que os últimos dois séculos acostumaram o homem a uma carga de trabalho impensável noutros tempos. Disso percebemos que, no que tange à literatura, obras de grandes autores tomaram maior vulto: hoje, o natural é que escritores sérios sejam como máquinas de escrever e produzam, caso o tempo permita, dezenas de volumes. Que concluir? Primeiramente, que talvez a fecundidade tenha-se tornado vulgar, por ser quase uma exigência contemporânea; em segundo lugar, que, em decorrência disso, talvez já não se possa associar fecundidade ao velho estro, visto que a primeira tornou-se como automatizada pelo espírito deste tempo; finalmente, que talvez se haja de admitir que tal fecundidade acarrete um vício — vício este que, mais do que nunca, é preciso cuidado para evitar…

Se é ostensivamente verdadeiro…

Se é ostensivamente verdadeiro que as universidades brasileiras se tornaram instrumentos de doutrinação ideológica, e consequentemente os diplomas atestados de submissão, não há como almejar solução para a miséria intelectual em que o país se meteu que não a total ridicularização e o total desprezo às universidades e aos títulos acadêmicos por parte de uma intelectualidade real que emerja de forma independente e se contraponha ao escárnio que foi feito de forma maliciosa e incrivelmente bem-sucedida no país. Não há saída que não passe pela destruição metódica e completa deste império espúrio que foi levantado e usurpou a finalidade da educação superior. É claro, é claro… o mais provável é que nada disso aconteça. E continuaremos bem…

Não há modelos humanos mais desprezíveis…

Não há modelos humanos mais desprezíveis do que estes que, deparando-se com uma inferioridade real ou imaginária, fazem questão de humilhar. Faltam palavras… Tal manifestação de má índole não se dá senão em espíritos vis, merecedores do desprezo mais pleno em todas as esferas. A satisfação que colhem desta arrogância, que parece elevar-lhes o senso de importância, deveria, num mundo justo, ser sucedida de uma humilhação tão completa que proibisse, até o fim da vida, a mera ideia de que talvez pudessem ser em algo superiores a alguém.

É interessante observar o fenômeno…

É interessante observar o fenômeno em curso na educação superior. Na mesma velocidade em que as universidades vão se resumindo a fábricas de diplomas e, no caso da área de humanas, em ferramentas de doutrinação política, aumenta-se a procura por professores independentes, que lecionam aquilo que querem, aquilo pelo que são apaixonados e julgam fundamental, sem preocupar-se com diretrizes delineadas pelo órgão que seja, nem sobre se alongar com aquilo que os outros dizem importante. Assim, distinguimos claramente dois grupos: os sedentos por diplomas, e os sedentos por aprender. É difícil presumir que chegará o dia em que cursos lamentáveis como estes de humanas serão tidos universalmente como obsoletos, mas parece inevitável que, num futuro próximo, alguém capte tal tendência e funde uma instituição de ensino de grande porte que reúna tais professores e tais alunos, uma instituição que resgate a finalidade do ensino e, fornecendo ou não diplomas, porte-se da maneira que todas se deveriam portar.