Democracia: a fábrica de covardes

Um dos efeitos colaterais mais detestáveis de uma sociedade democrática é o estabelecimento do juízo velado de que, se muitos estão contra um, os muitos estão com a razão. Não há processo mais eficiente para uma fábrica de covardes! A partir do momento em que uma criança é ensinada que, para fazer valer sua opinião ou vontade sobre as de outro, basta convencer um terceiro a apoiá-la, ela aprende a operar a covardia — conhecendo-lhe as vantagens práticas sobre a honra, virtude essencialmente individual. Se pensamos em gerações inteiras educadas desta forma, é o fim!

A história de grandes homens que se destacaram da multidão

Já disseram — Carlyle? — que a história da humanidade é a história de grandes homens que se destacaram da multidão nula que a compõe. Disto, a tragédia moderna: a estrutura social democrática simplesmente coíbe a ascensão de grandes homens, colocando-lhes no lugar demagogos abjetos, escravos da vontade popular. Para ascender e alcançar reconhecimento, o homem moderno precisa transformar-se num porta-voz da maioria estúpida, deixando de lado sua individualidade para tornar-se um animador de circo, um agitador de multidões. Justamente o distinto é que não pode ascender, sendo esta possibilidade exclusiva para aqueles que se assemelham ao maior número possível de indivíduos. O fracasso!

Nostalgia do tempo dos duelos

Hoje, um imbecil sente a vaidade arranhada e, em vingança, age à socapa para prejudicar o outro, movendo contra ele uma campanha de ódio — isto é, incitando outras pessoas a odiá-lo; congregando uma maioria covarde. Há alguns séculos o ofendido, o verdadeiramente ofendido, podia lançar mão do desafio, requintando-o caso deixasse a escolha da arma a cargo do desafiado. Este, recusasse, assumia-se covarde e a honra do ofendido era automaticamente desagravada. O duelo era instrumento que atirava ofensores em péssima situação: o ofendido só tinha a ganhar. Perdendo o duelo, saia como corajoso; vencendo-o, tinha o prejuízo moral retribuído. Como tudo mudou! Nesta era de covardes, o duelo em condições de igualdade já tornou-se literatura: não há quem desafie e muito menos quem tenha coragem de aceitar um desafio. Naquele tempo, onde a possibilidade de um duelo era patente, as pessoas respeitavam-se mais.

O poder é sempre o reflexo de uma relação de domínio

Se medimos o poder pela aptidão — disponibilidade de meios — para a corrupção da vontade ou ação alheias mediante a imposição da própria vontade, vemos que o poder é sempre o reflexo de uma relação de domínio. Se quebramos a relação e isolamos o lado dominador, analisando-o de si para consigo mesmo, notamos que tal poder é inútil e ordinário. O desejo de poder, na acepção vulgar, é sempre um desejo que foca as lentes no outro, na subjugação do outro, no fortalecimento perante o outro — e, por isso, abjeto. Desejar influência é demonstrar-se alguém que, não obstante a vaidade manifesta, reputa o outro em destaque na equação da própria vida — menosprezando-o, porém, como inconscientemente menospreza a si mesmo.