A consciência evoluída tem de portar-se como uma empresa

É curioso notar o movimento da psicologia das massas. Para além da noção utilitária do próprio valor, agora, a consciência evoluída tem de portar-se como uma empresa, isto é, não somente aceitá-los de bom grado, como ansiar por feedbacks. Escuta, ó alma, peça-os e agradeça, sempre! E as relações — todas elas! — dotadas de um caráter comercial. Quer dizer: o ser humano passa a existir em função da “satisfação dos clientes”. De sorriso esticado na face, mostra-lhe a maturidade quando se esforça por agradar. Sempre os outros, sempre o extra, sempre o grupo como critérios soberanos de validação dos próprios atos. E o “senso comum” forçando a universalidade da submissão… Oh, espécie! cujos resquícios da dignidade parecem subordinados a uma migração voluntária de indivíduos de volta à floresta…

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Uma postura antimarketing

Se a virtude majoritariamente se manifesta na abstenção, na negativa, na anulação de disposições naturais, e se o aspecto geralmente lhe é áspero, frio e intransigente, é forçoso concluir que ela exige uma postura ativa em prol da depreciação da própria imagem, ou seja, uma postura essencialmente antimarketing — a nível pessoal, é verdade, mas acaso essa divisão ainda é possível?

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A multidão é essencialmente covarde

Sempre que me deparo com a agressão em massa contra um indivíduo noto, em primeira instância, a desigualdade do combate. Foi-se o tempo dos duelos; foi-se a noção de que a honra, mesmo aviltada, exige o combate leal. A multidão é essencialmente covarde por valer-se da opressão numérica. Constato que, ainda que o indivíduo tenha feito qualquer coisa de condenável, eu jamais serei capaz de urrar vendo-lhe a cabeça a rolar. Rechaço, sempre e obrigatoriamente, o berro repugnante da multidão. Nunca estarei ao lado da turba impessoalizada, do somatório de covardes que se escondem sob a máscara de uma “causa comum” para agredir.

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A democracia acabará enforcada pelos democratas

O diagnóstico é antigo:

A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são maioria na humanidade.

Tento imaginar o que Nelson diria presenciasse nossos dias de internet e redes sociais. Nas principais democracias do mundo, a liberdade de expressão já não é plena: há opiniões proibidas, há censura. A massa de idiotas aniquila tudo quanto a desagrada escutar. Nunca houve tamanha facilidade para que o ódio se organizasse e encontrasse meios de ação. As turbas digitais revoltam-se, empenham-se pelo juízo prévio de valor e logram, fatalmente, privar alguns do direito de falar. Destroem facilmente carreiras, reputações, trabalham com afinco imensurável pela ruína total dos objetos do seu ódio. O capital cede, é avesso à polêmica, arrepia só de pensar no detrimento da própria imagem. E a democracia não faz senão lhes validar a fúria, posto ser o regime em que maioria implica direito, denota razão. Cientistas sociais debatem: como barrar a ação do ódio organizado? Como impedir que a moral vigente, mais uma vez, sufoque metodicamente as manifestações dissidentes? Difícil… Muitos e muitos ainda serão honrados com as chamas da fogueira deste tempo. O ódio é o impulso humano mais potente, não cede enquanto não consuma a própria obsessão. Continuarão a odiar, odiar, odiar, até que a democracia acabe enforcada pelos democratas.

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