O mínimo que se espera de um escritor…

O mínimo que se espera de um escritor digno deste nome é considerar um insulto o mero conjeturar destes adeptos da engenharia social moderna, que se julgam no direito e com o poder de determinar como os outros devem se expressar. Porque é exatamente isto o que merece a polícia da linguagem: um absoluto e terminante desprezo, que deve ser estendido ao escritor que a ela se submete, que se humilha adequando-se aos ditames súbitos e delirantes de meia dúzia de palhaços que se acreditam poderosos o suficiente para submeter tradições literárias que remontam a séculos e por muitos outros se estenderão.

Mais injustificável que a obsessão…

Mais injustificável que a obsessão com a originalidade é esse constrangimento decorrente da constatação de que o dito agora já havia sido dito há muito tempo. Que dizer? O autor que, registrando as próprias impressões, nota algo já notado anteriormente, em vez de se constranger por não ter sido o primeiro, ou não ter tomado conhecimento da fonte primária, — muitas vezes irrastreável, — deveria satisfazer-se de ter chegado à mesma conclusão através da percepção direta, alegrando-se como se alegram aqueles que acham no outro algo em comum.

Simultaneamente ao fato de que ao escritor…

Simultaneamente ao fato de que ao escritor, hoje, parece impossível esboçar uma linha sem o auxílio de um computador, isto é, sem esta maravilhosa ferramenta que possibilita o dispor de uma montanha de dados organizada, acessível e, sobretudo, na qual se pode pesquisar qualquer coisa em segundos, concorre o fato de que nem esta, nem qualquer automatização é bem aproveitada quando não se sabe realizar o processo sem ela. Quer dizer: é preciso aproveitar-se, mas não depender dela para que o trabalho seja feito; o que significa, em outras palavras, entender suas possibilidades e limitações.

São muitos os exemplos de belas obras iniciadas…

São muitos os exemplos de belas obras iniciadas apenas tardiamente, mas é raro encontrar um grande escritor que não se tenha aventurado na escrita bem antes de ser capaz de produzir algo de valor. Em verdade, o capacitar-se a fazê-lo é justamente praticar até que adquira o domínio da prática, é experimentar, errar e aprender. O que por isso não se adquire é a bagagem do estudo e da experiência; mas por isso, e só por isso, adquire-se a capacidade de escrever bem.