Astrologia…

É com espanto que leio as conclusões de Jung e as linhas de Pessoa sobre a astrologia. Duas mentes modernas, duas mentes que tenho em tremenda estima. Modernas, e logo vejo atacados os preconceitos de um sujeito que cresceu no final do século XX, amestrado conforme a ideologia de seu tempo. A reação é excitar a curiosidade inédita, pelo desejo de não ser como os medíocres e tentar seguir o caminho dos grandes. Então me deparo com uma área que aparenta imersa nas mais terríveis confusões, quando não dominada pela filosofia mais barata. Muito bem! Dezenas de séculos credenciam a atenção. Mas que é que se pode ganhar disso tudo? Vá lá… o poeta era astrólogo.

A arte é o ato da criação artística

“L’œuvre de l’esprit n’existe qu’en acte” — assim Valéry começa um dos trechos mais lúcidos que já tive a oportunidade de ler sobre a arte. A arte é o ato da criação artística, que sobrevive na qualidade de registro de uma iluminação momentânea, de uma resposta do espírito diante de circunstâncias específicas. Tirada do contexto, mostra-se inócua. Só se permite assimilada se analisada em conjunto, e é destruída quando lhe tem os elementos dissecados. Belíssima lição aos “especialistas”…

O sucesso é a ruína do artista

Cioran resumiu: “Mourir inconnu, c’est peut-être cela la grâce”. Voltaire já havia concluído: “Vivre et mourir inconnu”. Valéry, na mesma linha, nota que “peut-être, si les grands hommes étaient aussi conscients qu’ils sont grands, il n’y aurait pas des grands hommes pour soi-même”. Que dizer? O sucesso é um sepultador. Talvez seja a maior desgraça que pode recair sobre um artista; é o prenúncio da ruína. O sucesso afasta-lhe as profícuas noites amargas, o questionamento terrível e maravilhoso sobre o próprio talento. O sucesso rouba-lhe a solidão e ilude, jogando areia no fogo interior que incita ao estudo, à evolução contínua, ao aprimoramento da técnica, à necessidade de uma expressão mais plena. Mas pior, muito pior. O sucesso abre “possibilidades” e impõe ao artista uma “nova função”. Isso, de fato, é-lhe a morte.

Uma cena inesquecível

Nunca me esquecerei desta cena! Um doutor respeitadíssimo, diante dos alunos, instruía-os quanto à organização da sala para a aplicação imediata de uma avaliação. Disse respeitadíssimo e reforço: o doutor era de uma imodéstia espetacular e gabava-se, a cada frase proferida, do prestígio que lograva a nível nacional em sua área de atuação. PhD, rico, fora o resto. Ele falava e eu aguardava a entrega de minha prova. Então ele puxou um pincel e escreveu no quadro como gostaria que a sala fosse organizada: à esquerda, do número tal a tal; à direita, deste àquele outro. E foi que eu vi, com meus próprios olhos, o exímio doutor grafar no quadro “de 1 a 15”, “de 15 a 30” substituindo os “a” por “há”. Eu vi. Não foi ninguém que me contou.