O nome de meu bisavô

O nome de meu bisavô? Não sei…
De mãe ou pai? Nenhum dos quatro. O nome
De um bisavô é um mistério absoluto…
Anônimos são todos: eis a lei.

Três gerações — não mais! — e o nome some.
Em vão indago, em vão é que perscruto:
Descendo de um escravo ou de um grão rei?
Ladrão ou padre? Rico ou teve fome?

Meu bisavô não tem este atributo:
O nome! o nome! E nunca saberei!…
Por isso é ilusão qualquer renome:

É transitório o nome, a carne, o luto…
Investigando-me a estirpe encontrei
Só vultos em redor do sobrenome…

(Este poema está disponível em Versos)

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O sábio enxergará utilidade…

O sábio enxergará utilidade
Dando azo à besta que lhe habita a mente,
Que despertando pô-lo-á consciente
Do imoralismo que lhe é qualidade.

A besta atende ao élan da vontade
E, à sobre-excitação, põe-se fremente;
Lascívia, cana, ou outro entorpecente
No corpo fogo são que o monstro invade.

Então, selvagem, como que possesso,
Comete o sábio algo que não diz,
Sabendo o impulso não provir do acesso.

E, com pesar de ter feito o que quis,
Aprende, embora pávido e depresso,
E é mais sábio sabendo-se infeliz.

(Este poema está disponível em Versos)

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Resposta a Augusto dos Anjos

Leio o soneto de Augusto dos Anjos, intitulado Perfis chaleiras:

O oxigênio eficaz do ar atmosférico,
O calor e o carbono e o amplo éter são
Valem três vezes menos que este Américo
Augusto dos Anzóis Sousa Falcão…

Engraçado, magríssimo, pilhérico,
Quando recita os versos do Tristão
Fica exaltado como um doente histérico
Sofrendo ataques de alucinação.

Possui claudicações de peru manco,
Assina no “Croquis” Rapaz de Branco
E lembra alto brandão de espermacete…

Anda escrevendo agora mesmo um poema
E há no seu corpo igual a um corpo de ema
A configuração magra de um 7.

Respondo:

No vasto cosmos multiplanetário
Encontra-se um sujeito num recinto:
Lhe ferve a testa, falta-lhe o instinto,
Pois fisga verbos frente a um dicionário.

Mas que vergonha! Artistinha ordinário!
Enquanto escreve bebe vinho tinto…
Acordo. É sonho! E m’escapou, pressinto,
Outro enigma do meu imaginário…

Mas eis que vejo a cena por completo:
Eu mesmo empunho a caneta, risonho,
E firmo logo abaixo do soneto:

Luciano dos Anzóis Sousa Falcão.
É isso! É isso! E a moral deste sonho:
Também não sou ninguém, querido irmão!

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