As luzes faíscam do seio das trevas

Trecho de Camilo Castelo Branco, em Lagrimas Abençoadas:

Como é que da seiva do erro se nutrem viçosas as vergonteas da verdade? As luzes faiscam do seio das trevas. Ha máximas preciosas que brilham ao clarão dos incendios philosophicos.

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A sina do intelectual

O intelectual tem de ser imprevisível, ou não será digno do epíteto. Se o leitor, em contato com o título de uma obra ou de uma crônica, for capaz de predizer-lhe o conteúdo, então o autor estará morto, mergulhará no desinteresse. Digo o óbvio, é confrontar com os exemplos… Cronistas de assunto único sobejam, romancistas de antolhos são maioria. E se atingem, estes ou aqueles, os efeitos desejados alguma vez, a insistência somente lhes expõe as limitações. O intelectual, pois, há de ser dinâmico, variado, imprevisível e abrangente, do contrário, é preferível que deixe de falar…

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Estilo é abundância em recursos expressivos

O objetivo de todo grande artista deveria ser erigir, a longo prazo, um monumento complexo e multifacetado. Por isso artistas menores são os que, irritantemente, só fazem repetir os mesmos processos. Fazê-lo, a buscar ênfase numa mesma ideia, numa mesma impressão ou na evocação de um mesmo sentimento, não é, como alguns supõem, demonstração de estilo, mas evidência de horizonte criativo limitado. Estilo é expressividade, potência, concisão, ritmo… Estilo é abundância em recursos expressivos, exatamente o contrário da capacidade do artista em repetir à exaustão os mesmíssimos processos.

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Quem há que não se espante?

Vamos desta abertura magnífica de uma das epístolas de Camões:

Quem póde ser no mundo tão quieto,
Ou quem terá tão livre o pensamento,
Quem tão exprimentado, ou tão discreto,
Tão fóra, emfim, de humano entendimento,
Que ou com público effeito, ou com secreto
Lhe não revolva e espante o sentimento,
Deixando-lhe o juizo quasi incerto,
Ver e notar do mundo o desconcêrto?

Quem ha que veja aquelle que vivia
De latrocínios, mortes e adulterios,
Que ao juizo das gentes merecia
Perpétua pena, immensos vituperios,
Se a Fortuna em contrário o leva e guia,
Mostrando, emfim, que tudo são mysterios,
Em alteza d’estados triumphante,
Que por livre que seja não s’espante?

Quem ha que veja aquelle, que tão clara
Teve a vida, qu’em tudo por perfeito
O proprio Momo ás gentes o julgára,
Inda quando lhe visse aberto o peito,
Se a má Fortuna, ao bom somente avara,
O reprime, e lhe nega seu direito,
Que lhe não fique o peito congelado,
Por mais e mais que seja exprimentado?

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