Julgamento: ato insuportável!

Nada me é mais insuportável que o julgamento! Como, desde há muito, percebi que não posso deixar de fazê-lo — ainda que de forma impessoal, — aprendi a cultuar o silêncio. Silêncio que, a aparentar exteriormente a paciência e serenidade, implica uma interminável guerra interior. Odeio o julgamento e, ainda assim, julgo o tempo inteiro. Aniquilo-me quando me vejo a condenar condutas, e condeno todas, principalmente a minha. Pudera eu enforcar esses rompantes terríveis do juízo! Mas não há fim, nem sossego, e considero-me vitorioso por conservar um aspecto mínimo que remeta à humanidade.

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O cristão comum

A despeito de frequentar os cultos, festas, participar ativamente da comunidade, publicar provérbios e mensagens apologéticas nas redes sociais, não vejo uma única distinção de conduta do cristão comum perante o resto das pessoas. Está, claro, registrada a prescrição de Jesus quanto à conduta, mas quantos a seguem? Penso que o cristão, necessariamente, deveria diferir dos demais, caso contrário ser-se-ia cristão por inércia. Vejo isso, por exemplo, em islâmicos. E que faz, em nossos dias, o cristão comum? Canta à plena voz durante o culto? Paga o dízimo? Mesmo os líderes: em que moeda pagam pelo título de autoridade espiritual? Pergunto-me pois, engraçado! Acabo de ver um pastor evangélico, trajado em social, entrar num boteco, comer um salgado e seguir sua vida. Senti, subitamente, que eu mesmo poderia pegar um microfone e, bem vestido, pregar à meia dúzia de fiéis.

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Ocupação inglória

Dedicar-se a uma ocupação inglória, trabalhar com afã sobre-humano, conviver diariamente com a incompreensão; fugir do convívio, combater a ignorância, digladiar-se por meios de expressão; se preciso, enfrentar a penúria; olhar diretamente na dor; caminhar entre sombras, no silêncio, afastando-se em serena resolução; notar-se-lhe o ambíguo, o contraste, indeciso em que acreditar; não esperar nada, nunca!, jamais lhe abandonando o dever; sentir-se impotente, falho, arrependido de descuidos precedentes, envergonhado da mais recente produção; envelhecer combalido, frustrado, sem jamais perder no trabalho o amor. Morrer, finalmente, desconfiado do próprio valor…

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